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sábado, 11 de setembro de 2010

24 Domingo do Tempo Comum: Perdão e Reconciliação


A parábola do filho pródigo, ou como é atualmente chamada, do Pai Misericordioso, é também a do filho perdido, uma vez que é concebida por vir acompanhada pelas parábolas da ovelha perdida e da moeda perdida.
O contexto do relato é interessante. Há certamente uma crítica do Senhor aos fariseus e escribas, que estavam “perturbados” porque ele comia com os cobradores de impostos e pecadores, como abre o texto do capítulo 14 do Evangelho de São Lucas, que escutaremos neste domingo.
Essa questão colocada pelos escribas e fariseus era uma preocupação ardilosa, certamente, e não sincera. O estar facilmente com o outro era uma característica de Jesus, o que para eles não era assim.
Jesus menciona estas parábolas para ilustrar mais a alegria de Deus pelo arrependimento. Ele quer ressaltar a reconciliação do pecador com o seu Senhor. Não há maior dom e alegria que o arrependimento.
Mas, a parábola é uma mensagem atemporal. Ela nos diz em pleno século XXI que há algo de mais profundo e mais completo que é a nossa atitude frente ao mal. Aqui reside a reconciliação.
Na pregação de São Paulo em 2Cor 5,18 constatamos que Deus nos reconciliou consigo mesmo por meio de Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação (2 Cor 5,19), ou seja, que Deus estava em Cristo reconciliando o mundo, e não simplesmente imputando ao mundo o pecado. Isso é muito pouco para Deus. Deus não é um acusador.
E mais: uma vez reconciliados, nós mesmos nos tornamos reconciliadores (2Cor 5,20), embaixadores em nome de Cristo. Eis a missão da Igreja: sacramento da reconciliação no mundo. Um povo reconciliado é chamado a ser sinal da misericórdia no mundo – eis nossa missão como Igreja!
Por isso, no mundo extremamente conturbado que vivemos, o tema da reconciliação é importante porque a pessoa necessita de reconciliar-se. Pois, reconciliar-se é fazer algo para que a própria reconciliação aconteça, exista. Esta é ação de Deus para a humanidade, mas o homem é chamado a corresponder dando esse primeiro passo para que Ele possa atuar: “voltar à casa do Pai”.
Daí que o tema da reconciliação é conjunto com o tema do arrependimento e também com o tema da humildade.
Temos uma grande riqueza em nossa Igreja Católica que são a prática e possibilidade da confissão e da penitência como sinal da conversão e arrependimento. As contestações de hoje são muitas devido às transformações religiosas e culturais vindo sempre com a célebre pergunta: “porque preciso me confessar, ou ainda mais, porque com uma pessoa igual a mim?”. Isso demonstra a dificuldade que encontramos hoje em viver a reconciliação.
Reconciliar é re-unir, é um trazer de volta a harmonia perdida. É uma cura à divisão, à separação, à ruptura. Mal maior da humanidade: a divisão.
A vida de Jesus foi o grande anúncio da reconciliação. A Igreja, insistimos, é símbolo da reconciliação. Daí o termo “embaixadores” pregado por São Paulo.
A reconciliação é um novo momento de graça e um excelente momento de conscientização sobre o nosso pecado pessoal e social também. Chama-nos a lembrar de nosso compromisso no batismo, a nossa vida confirmada no Espírito, e a nossa unidade com o povo eucarístico.
A parábola do filho pródigo ensina-nos, claramente, que o pecado é um distanciar-se. Distanciar-se da harmonia com o Pai, e com a atitude do filho mais velho, é um recusar-se à compaixão e à misericórdia.

A nossa base de relacionamento deve ser em primeiro lugar com Deus: relação pai/filho na parábola. A linguagem do sacramento da confissão é esta mesma: resposta ao apelo para vivermos constantemente essa relação.
Por isso seria muito importante nos perguntar se temos a prática de nos achegarmos ao sacramento da penitência. Ligado ao mesmo assunto, buscando o crescimento espiritual, será que temos também procurado o diretor espiritual? Em nossas comunidades temos facilidade de acesso dos fiéis ao sacramento da reconciliação? Teríamos que ter um horário determinado para atendimento da confissão de nossos fiéis em todas as paróquias e em todas as regiões nas comunidades mais centrais alguns plantões para atendimento do nosso povo. Em minhas reuniões com as foranias tenho procurado detectar esses locais e incentivar essa prática.
Digo isso levado também por uma importante palavra do nosso Papa Bento XVI: “O Sínodo lembrou que é dever pastoral do bispo promover na sua diocese uma decisiva recuperação da pedagogia da conversão que nasce da Eucaristia e favorecer entre os fiéis a confissão freqüente. Todos os sacerdotes se dediquem com generosidade, empenho e competência à administração do sacramento da Reconciliação. A propósito, procure-se que, nas nossas igrejas, os confessionários sejam bem visíveis e expressivos do significado deste sacramento. Peço aos pastores que vigiem atentamente sobre a celebração do sacramento da Reconciliação, limitando a prática da absolvição geral exclusivamente aos casos previstos, permanecendo como forma ordinária de absolvição apenas a pessoal.” (Cf. Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, n. 21)
Nosso Senhor Jesus Cristo, queridos irmãos e irmãs, é a presença viva da reconciliação de Deus. Bendito seja o homem que encontrou Cristo, porque ele encontrou a Deus que perdoa. Deus, em Cristo, vive perto de nós. Façamos o tema da reconciliação algo de concreto em nossa vida: tive fome e me alimentou; tive sede e me destes de beber; estive doente e me visitastes; estive preso e me acolhestes. Testemunhemos o exercício caritativo e purificador da reconciliação no cotidiano de nossas vidas, e o mundo perceberá não em teoria apenas, mas em verdade, o que Jesus nos pede uma vida santa e reconciliada para viver a via ordinária da santidade!

Dom Orani João Tempesta

Fonte: CNBB Nacional

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