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sábado, 23 de outubro de 2010

30 Domingo do Tempo Comum: O fariseu e o publicano

Neste domingo, Lucas nos apresenta novamente Jesus como mestre e especialmente como mestre de oração. Conhecedor do coração humano com suas luzes e sombras, sabe que a soberba e a falta de amor são sérios empecilhos para vivermos como filhos e filhas de Deus.    
Por meio da parábola de hoje, busca mostrar quais as atitudes que ajudam e quais as que não na vivência da relação com Deus, seu Pai, nosso Pai.

Antes de adentrarmos no comentário desta parábola, peçamos ajuda a nossa imaginação para situar-nos na cena que é narrada. Ela se realiza em um contexto urbano, mais concretamente na cidade de Jerusalém, no Templo, centro da vida religiosa e social do povo judeu. Dois são os personagens “visíveis” desta história: o fariseu e o publicano, que buscam se relacionar, a oração é isto, relação, comunicação de coração, com Deus, o terceiro personagem, não visível, mas presente.

Apresentemos o fariseu. Ele faz parte de um dos mais influentes setores do judaísmo. Demonstravam grande zelo pelas tradições teológicas e pelas práticas do culto. Mas muitas vezes sua prática religiosa era vazia e externa, pelo que mereceram a admoestação de Jesus de sepulcros caiados! (Mt 23,27). Por sua vez, os publicanos eram judeus que cobravam de seus irmãos de raça os impostos exigidos pelos romanos, arrecadando bastante dinheiro para si. Não eram queridos pelo seu próprio povo, a ponto de ser considerados fora da lei, o que fazia deles uns “marginalizados ricos”.

Esses dois homens se dirigem ao templo para rezar, como era costume dos judeus. Vão ao encontro com Deus. Olhemos para o fariseu que, de pé, se dirige a Deus: “Ó Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens...Eu faço jejum...”. Na verdade, suas palavras não nos revelam uma oração senão um orgulhoso monólogo.

Ele não está se dirigindo a Deus, nem buscando sua Presença, já que seu coração não tem espaço para a presença do Outro, porque está cheio de julgamentos e auto-suficiência. Não pode se relacionar com Deus quem despreza desse jeito seus irmãos ou irmãs, por mais que cumpra com os preceitos da lei, esquece o mais importante, o amor ao próximo. Talvez o Espírito fará ressoar em seu coração as palavras do profeta: “Misericórdia eu quero e não sacrifícios”! (Os 6,6), se as escuta será a possibilidade a iniciar um caminho de mudança de vida.

Levando nosso olhar para o publicano, vemo-lo numa atitude totalmente diferente: “ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu, mas batia no peito...”, reconhecendo-se como pecador.
Ele sabe de suas faltas  e de sua pobreza, seus gestos e palavras revelam humildade e busca sincera do perdão de Deus. Sabe que não tem nada para oferecer de méritos ou boas obras, mas tem a coragem de mendigar o Amor de Deus.

Não quer justificar seus erros nem acusa ninguém do mal feito. Sente o peso de sua própria consciência, mas confia em Deus, e pede humildemente sua salvação. E aqui está o principal desta parábola, o mistério da salvação. As últimas palavras de Jesus nos dão a chave para interpretá-la: “Eu declaro a vocês: este último voltou para casa justificado, o outro não”. Jesus quebra a mentalidade religiosa da época para a qual a salvação se tinha convertido num cumprimento de normas e preceitos vazios, sem amor, sem relação com o Outro. Como se a salvação pudesse ser comprada com jejuns, tributos e sacrifícios.


O Filho de Deus se revolta diante desta falsa imagem que os seres humanos fizeram de seu Pai, Deus de Misericórdia, que faz brilhar o sol sobre justos e injustos. Ele não precisa que seus filhos/as façam coisa alguma para merecer seu amor. Tampouco negocia o perdão. Ele ama incondicionalmente e gratuitamente. 
A parábola desenha também o terceiro personagem da sua narrativa, que, como já citamos, é “invisível”. É Deus mesmo, Pai de Misericórdia e Deus de todo consolo que tem um carinho especial pelos menos favorecidos.

O livro do Eclesiástico o descreve claramente: “Deus não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; jamais despreza a súplica do órfão, nem da viúva, quando desabafa suas mágoas” (Eclo 35,16-17). Entremos agora nós também no templo, que é o lugar que escolhemos para nos relacionar com Deus. Qual é nossa atitude o do fariseu ou do publicano?

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