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terça-feira, 24 de agosto de 2010

A esperança não morre


Agosto é mês vocacional. O tema deste ano é: “Há esperança no Caminho”. O lema: “Ardia nosso coração quando Ele nos falava no Caminho”. (cf. Lc 24,13-35). Desde o final do pontificado de João Paulo II o texto de Lucas, que narra a experiência dos discípulos de Emaus, tem voltado sempre de novo em documentos da Igreja. O documento de Aparecida termina com a prece inspirada de Bento XVI: “Fica conosco, Senhor”(DAp  554). A esperança é a virtude do caminho, tanto mais forte quanto mais o caminho se torna difícil.
Na oração do Santo Padre, há um trecho que nos chama a atenção de forma especial. Ei-lo: “Fica conosco, Senhor, porque ao redor de nós as sombras vão se tornando mais densas, e tu és a Luz; em nossos corações se insinua a desesperança, e tu os fazes arder com a certeza da Páscoa. Estamos cansados do caminho, mas tu nos confortas na Fração do Pão para anunciar a nossos irmãos que na verdade tu ressuscitaste e que deste a missão de ser testemunhas de tua ressurreição”.
Neste mês vocacional somos todos convidados a renovar nossa fé na presença do Senhor no caminho. Cada um de nós, chamado por Cristo, faz um dia a experiência dolorosa dos discípulos de Emaus.  Alguma vez - ou muitas, não sei - murmuramos a sensação de que tudo não passou de um sonho: “nós esperávamos...”, esperávamos tanto, planejamos com todo o cuidado e queríamos o sucesso, sonhamos com dias luminosos e frutos abundantes de nosso trabalho, e, no entanto... Uma coisa foi importante na história daqueles dois discípulos: conversavam enquanto caminhavam. Falavam de suas esperanças desfeitas, Afinal eles tinham crido em Jesus e nele apostaram tudo. Trocavam, com olhos tristes e com os rostos cobertos de sombra, a amargura de seu desencanto e se deixaram interpelar por um desconhecido: “Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando?”. “E eles pararam, com o rosto sombrio”.
A presença de um terceiro lhes interrompe aquela conversação triste e os arranca do círculo vicioso do vazio sem fundo.  Pararam, e se podia ver a sombra que cobria seus rostos. Mas olharam para o forasteiro que se aproximava. Por um instante saíram de si e ousaram partilhar com ele sua dor. Estabeleceu-se o diálogo salvador.  Não tiveram medo de abrir o próprio coração para o desconhecido que, só ele, não sabia da tragédia que se abatera sobre Jerusalém. O desconhecido foi lhes passando o fogo que trazia em seu próprio coração com palavras quentes de infinito amor e eles, de dentro de sua noite, como quem pressentia um lindo amanhecer, não se contiveram: “fica conosco, Senhor”.  E o forasteiro ficou.
Foi no gesto de abençoar e partir o pão que o reconheceram: “é Jesus!”. Quando partiu o pão e estendeu suas mãos, entregando a um e outro o pão partido, Jesus ficou invisível diante deles, restando-lhes nas mãos o pedaço de pão. É que naquele pedaço de pão Jesus se doou inteiramente ao ponto de desaparecer de diante de seus olhos para estar no pão partido. E o coração deles, que ardia quando ele lhes explicava as Escrituras, acabou de se incendiar pela sua presença agora definitivamente plantada em suas almas. Voltaram a Jerusalém, reuniram-se aos outros. Seus rostos estavam iluminados. A noite tinha passado. A esperança virou certeza. A alegria de estar com os outros e trocar agora palavras de esperança e proclamar a verdade voltou.
Irmão(ã), você foi chamado(a) para seguir Jesus. No caminho aceite sua companhia, escute sua palavra, e coma do pão que Ele parte. Partilhe com os irmãos de caminhada suas alegrias e também suas dores, pois: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles”(Mt 18, 20). Como são importantes nossas reuniões, momentos preciosos de encontro com o Senhor!

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

Fonte: Site da CNBB Nacional

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